Orquestra do Norte em risco de extinção?
A Orquestra do Norte tem catorze anos de existência, uma parceria inédita com o ISEP e foi criada com o objectivo de descentralizar a cultura. Com vários contratempos, “muita inveja” e risco de extinção, continua a dar música, a partir do norte, a todo o mundo.
A Orquestra do Norte (ON) nasceu em 1992 com o objectivo de descentralizar a cultura musical. Foi criada a partir da associação Norte Cultural que venceu o primeiro concurso nacional para a criação de orquestras regionais, instituído pelo governo da altura.
A associação Norte Cultural teve como fundadores as câmara municipais de Alijó, Bragança, Vila Real, Guimarães, Vieira do Minho, Póvoa de Lanhoso, Montalegre, Terras de Bouro, Torre de Moncorvo, Caminha, Chaves e Fafe. As fundações Casa de Mateus e Cupertino de Miranda de Vila Nova de Famalicão integraram também o grupo de fundadores.
Actualmente, entre os seus associados encontram-se os municípios de Amarante, Baião, Barcelos, Lamego, Marco de Canaveses, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Penafiel, Póvoa do Varzim, Valongo, Valpaços, Paredes, Vila Pouca de Aguiar e Vila do Conde. A Associação Norte Cultural conta ainda, como seu associado, com a participação do Instituto Superior de Engenharia do Porto, numa colaboração inédita em Portugal.
Ficou instalada provisoriamente em Vila Real, mas as condições precárias levaram a Orquestra do Norte para Penafiel onde permaneceu, também, pouco tempo.
Amarante foi o destino que se seguiu e é onde actualmente a Orquestra do Norte tem a sua sede instalada.
Conta com o apoio do Ministério da Cultura, e tem colaborado com setenta e uma autarquias, fundações, empresas patrocinadoras e diversas instituições culturais.
O velho cine-teatro de Amarante acolhe os serviços administrativos da Orquestra do Norte e é também nesse local, onde outrora foram projectadas velhas películas de cinema e onde posteriormente foi instalada uma discoteca , que são feitos os ensaios. Todos reconhecem que a acústica não é a melhor.
Armindo Abreu é presidente da Câmara Municipal de Amarante e da Associação Norte Cultural e, na sua opinião “as maiores dificuldades que enfrenta a Orquestra do Norte, desde a sua fundação em 1992, são o crónico sub-financiamento da sua actividade e a falta de entusiasmo dos associados da Associação Norte Cultural. Face a isto é evidente o risco de extinção”.
Armindo Abreu está muito apreensivo em relação ao futuro da ON e aponta o dedo aos associados da associação Norte cultural: “A responsabilidade de cada município associado da Associação Norte Cultural consiste em celebrar anualmente um protocolo de colaboração com ela mediante um programa acordado de concertos gerais e pedagógicos a que corresponde um determinado custo/preço. Acontece, porém, que alguns municípios associados deixaram de celebrar protocolos e outros têm vindo a reduzir ao número de concertos, com a consequente diminuição da receita.
Para se ultrapassar esta dificuldade e porque não é sustentável aumentar-se indefinidamente o preço dos concertos, a Associação Norte Cultural tem vindo a fazer acordos de prestação de serviços com municípios não associados e com outras instituições.
O desejável era que, para além das receitas dos concertos e do financiamento do Ministério da Cultura, que muito dificilmente cobrem os custos de funcionamento da orquestra, se conseguisse criar uma rede mecenática o que só pontualmente tem sido possível.”
Á parte de tudo isto, ninguém fica, mesmo o mais desatento dos cidadãos, indiferente ao número de pessoas que, quase diariamente, por volta das 18h se desloca, com os instrumentos pela mão, para o velho cine-teatro. E vê-se um pouco de tudo: jovens, menos jovens, português e estrangeiros. Dos 50 instrumentistas que compõem a Orquestra, 40 por cento são de fora de Portugal. A passagem de uns é sazonal; outros estão quase desde a fundação da Orquestra, mas ambos têm algo que os une: a paixão pela música
José Ferreira Lobo foi um dos fundadores da associação Norte Cultural, é o director artístico e maestro titular da Orquestra do Norte. O maestro é mais optimista em relação ao futuro. Para ele o risco de extinção está fora dos seus horizontes e considera que a ON tem cumprido com os objectivos para a qual foi criada e a prova disso são as cerca de 50 mil pessoas que assistem anualmente aos concertos.
José Ferreira Lobo considera que a Orquestra do Norte é vítima de muita inveja e por isso tem vários inimigos. Os motivos dessa inveja, segundo o maestro, prendem-se com o facto da ON ser a orquestra que mais produz em Portugal, estando muito próxima, em termos produtivos, a Orquestra Metropolitana de Lisboa. José Ferreira Lobo dá-nos um exemplo de uma situação em que a ON foi motivo de inveja: “ Krzyszfof Penderecki, que é um dos maiores compositores do nosso tempo, veio estrear a Portugal uma obra sua com a Orquestra do Norte. A Casa da Música, com o argumento que tinha um ensaio, sublinho, um ensaio, recusou a possibilidade desse concerto ser lá feito”.
Estar instalada em Amarante não é um problema para os músicos que são dos vários pontos do país e do estrangeiro. Consideram uma mais valia, por ser uma cidade calma, bem situada geograficamente e estar perto do aeroporto do Porto. O maestro da ON refere mesmo que 30 por cento das pessoas que assistem, em Amarante, aos concertos são oriundas do Porto e isso deve-se à proximidade e rapidez de deslocação entre ambas as cidades.
A orquestra do Norte é a única orquestra que produz ópera em Portugal fora do teatro de S. Carlos em Lisboa. È sua intenção produzir mais óperas, por ser um tipo de espectáculo que “chega mais perto do gosto das pessoas", contudo, é mais dispendioso esse tipo de espectáculo.
O maestro aponta como principal dificuldade da ON, o crescimento da própria orquestra “temos limitações orçamentais que não nos permitem fazer um crescimento estrutural e de número de instrumentistas”.
Enquanto decorria a nossa conversa com o maestro José Ferreira Lobo, os músicos iam chegando. Um a um ocupavam o seu lugar e afinavam os instrumentos para procederem ao ensaio.
José Ferreira Lobo orgulha-se de dirigir a “única orquestra do norte”. Quando o interpelamos pelo facto de existir a da Póvoa do Varzim, o maestro foi peremptório em afirmar que “ a da Póvoa não obedece ao conceito de orquestra estável. Não podemos compara-la. Acho até pernicioso, para a estabilidade das instituições, que diferentes pessoas de diferentes grupos se juntem ”.
Para o director artístico da ON o próximo passo é trabalhar na agenda de 2007 para que se possa proceder a uma divulgação maior e mais eficaz, porque “ a divulgação funciona contra nós e mesmo os professores de música induzem os alunos a não frequentar os concertos”.
ISEP com parceria inédita
Um dos associados da associação Norte Cultural e consequentemente da Orquestra do Norte é o Instituto Superior de Engenharia do Porto.
O ISEP tem um tratamento igual ao dos restantes municípios e instituições associadas.
São, por isso, realizados, no mínimo, sete concertos anuais no auditório do ISEP. O próximo será já no dia 15 de Dezembro, com entrada livre a todos os que queiram passar bons momentos musicais e através da música despertar boas emoções.
1 comentário:
Póvoa DE Varzim.
Bom trabalho.
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