05 março 2006

Liberdade sim, abuso não!


Hoje fiquei intrigado ao vêr no jornal Expresso um cartoon criado pela Juventude Popular (JP) em que o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, é satirizado numa alusão aos tão contestados cartoons do profeta Maomé.

Primeiro, é interessante verificar que o Partido Popular (PP) ainda não digeriu muito bem a integração de um dos seus fundadores num governo socialista. Ninguém é ingénuo em pensar que esse cartoon não tem a conivência de algumas figuras destacadas da cúpula do PP.

Segundo, não entendo o porquê da má interpretação das palavras de Freitas do Amaral.
Eu nasci já no pós vinte e cinco de Abril o que significa que para mim essas histórias da censura mais perecem um qualquer filme do Al Capone.

Sou daqueles que defende a democracia e a laicismo das nações. Mas num estado onde existe total liberdade de expressão há que ter em consideração aquilo que sempre ouvi dizer em miúdo: “a nossa liberdade termina quando começa a dos outros.”

De facto devemos viver em liberdade, mas considero que há valores a preservar porque qualquer dia, ao abrigo da pertença liberdade de expressão, as pessoas podem devassar valores que nos são sensíveis.

Quantos de nós gostaria de ter o pai ou mãe satirizado ou ridicularizado num cartoon? Quantos de nós gostaria de ver adulterado os valores da nossa nação?

Penso que podemos, e devemos, usar a liberdade de expressão, mas a mesma não pode nunca ultrapassar ou ferir os valores que tocam profundamente as pessoas. Não podemos esquecer que a religião é algo que está próximo dos que nela acreditam.

Obviamente que os factos não justificam os fins, ou seja, os muçulmanos perderam toda a razão quando utilizaram meios e métodos agressivos contra tudo e contra todos para mostrar a sua indignação.

Reitero que sou um acérrimo defensor “das liberdades”, mas espero que a liberdade de expressão não seja para devassar, atingir ou ferir, conscientemente, os outros porque poderá tornar-se numa poderosa arma tal como era a censura mas aqui com um método contrário, sendo, no entanto, o objectivo o mesmo: tirar proveito através de alvos estratégicos.

2 comentários:

Anónimo disse...

a liberdade de expressão será sempre uma arma muito poderosa.

não concordo que possa ser limitada...todos devemos dizer o que queremos e pensamos...se ultrapassamos os limites do respeito e do direito á diferença, isso já é com cada um...

mas um ministro não pode dizer nunca o que disse o Freitas do Amaral...ha coisas que não podemos abdicar e a liberdade de expressão é uma delas...mesmo com algum mau gosto...o que até acho que não foi o caso.

Anónimo disse...

Há uma questão que poucos falam quando se referem aos tão famigerados cartons.
Eu acho que é de muito mau gosto envolver questões de religião nos cartoons. Mas, penso também que a reacção islâmica é exagerada quando são eles que fazem a sua luta em nome de Alá e da sua religião.
Mais, é um pouco estranho a forma colectiva e similar como todos reagem aos cartoons publicados em Novembro de 2005, quando sabemos que estes países nunca reagem da mesma forma e em alturas semelhantes.
Por fim, já ouvi muitos falarem da representação de Maomé, mas a verdade é que naquele cartoon mais polémico, que supostamente representa Maomé com uma bomba no turbante, as vestes não corresponderão às vestes da altura em que o profeta viveu.

Relativamente a liberdade de expressão, a única coisa que penso poder dizer é que os cartoons são de mau gosto e que se eu fosse cartoonista provavelmente não o faria (ou talvez faria!!!). A grande questão é a diferença cultural que existe entre os países ditos ocidentais e islâmicos. Os ocidentais têm muito a mania de querer que os outros sigam os seus moldes, mas isso ainda é impossível nos dias que correm. Aquilo que para nós pode ser considerado liberade de expressão, pode não estar incluído no conceito islâmico.