Uma tradição que está de volta
PUXAR O BADALO A S. GONÇALO
Sendo um vulto ou um culto o que é certo é que S. Gonçalo de Amarante é um dos Santos com maior número de devotos no norte de Portugal. À volta deste santo encontramos algumas tradições muito peculiares como aquela que mostramos nesta reportagem: puxar a corda, vulgarmente apelidada de badalo.
São Gonçalo de Amarante é o santo português que, sobretudo no Norte de Portugal, goza de maior devoção, logo depois de Santo António de Lisboa.
Segundo o Padre Miguel de Oliveira, na sua história eclesiástica de Portugal, “S. Gonçalo terá falecido a 10 de Janeiro de 1259; o seu culto foi permitido pelo Papa Júlio III (24 de Abril de 1552) e confirmado por Pio IV em 1561”
A Igreja Católica Apostólica Romana, consagra o dia 10 de Janeiro a S. Gonçalo de Amarante.
Se em outras localidades, como por exemplo em Gaia, este dia é de grande festa, em Amarante tal não acontece, já que a população associa as festas do concelho (festas de Junho) ao seu padroeiro.
São Gonçalo de Amarante é conhecido no nosso país como o santo casamenteiro das velhas.
Não menos conhecidos, são também os doces fálicos e uma série de rituais que estão subjacentes à figura deste santo.
De todos os rituais, o mais conhecido é, sem sombra de dúvidas, o «puxar da corda a S. Gonçalo».
Pedir três desejos, uma oração e puxar três vezes a corda que se encontra à cintura na imagem de S. Gonçalo, é um ritual que se estava a perder até há bem pouco tempo. Após a transmissão de um programa televisivo em que Amarante e o seu padroeiro foram as principais figuras, deu-se grande destaque ao ritual de puxar a corda a S. Gonçalo.
Como reflexo natural, o número de visitantes a essa cidade e, especificamente Igreja de S. Gonçalo, aumentou consideravelmente.
Este ritual não é inédito, no entanto, nos outros locais onde também existe, quando se puxa a corda, o santo mostra os seus órgãos genitais. Em Amarante tal facto não acontece, até porque a imagem em questão não os possui.
Não é possível descobrir porquê e quando nasceu este ritual.
O padre Amaro Gonçalo, pároco de Amarante, esclarece: “Tudo deve ter nascido por causa da necessidade de tocar. Faz parte da espiritualidade germânica e que depois chegou até nós. Viver a dimensão religiosa pelo tacto, pela comunicação corporal. A imagem era inacessível às pessoas, e portanto deve-se ter criado a corda para permitir a facilidade de comunicação com a imagem”.
O pároco de Amarante confirma que após o referido programa televisivo, este ritual se intensificou.
Devido à procura das pessoas e à força da atitude, a paróquia de Amarante teve de substituir a corda.
O padre Amaro Gonçalo refere ainda:”Este ritual tem a sua graça. É popular e não o devemos esquecer. Esta dimensão popular, fálica, do culto a S. Gonçalo, é uma dimensão que está presente em todos os santos populares. Esta imagem é a mais primitiva, era a que provavelmente ia nas procissões e que as pessoas tinham uma forte ligação com ela. Entretanto, a imagem foi substituída por outra de menor valor artístico. Quanto eu sei, nas procissões a corda facilitaria esse contacto”.
Conseguimos apurar que se têm realizado excursões organizadas propositadamente para conhecer a imagem em questão.
Algumas pessoas deslocam-se, de bastante longe, para puxar a corda a S. Gonçalo, como é o caso que tivemos conhecimento. Um senhor, que se fazia acompanhar por duas filhas solteiras, de idades já avançadas, que se deslocaram propositadamente de Cascais para as filhas puxarem a corda do Santo.
A paróquia desmente que tenha vindo a ganhar, monetariamente, muito com o ressurgimento deste ritual: “Por mês recebemos 40 a 50 euros”, refere o padre Amaro Gonçalo.
E porque S. Gonçalo de Amarante é conhecido como um santo casamenteiro (das velhas?), o repórter desta reportagem deixa ficar também aqui o seu pedido:
S. Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis,
Já tenho teias teias de aranha,
Naquilo que bem sabeis
(quadra popular)
1 comentário:
foi importante para um trablho esclar...obgd...
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