Hoje vou deixar-vos um excerto de uma homilia do Padre Amaro Gonçalo.
"Já bastava “a menina do gás” e a devolução da noiva à procedência, por causa de um automóvel, para confirmar a leviandade ética da nossa publicidade, quando se trata de atingir valores tão caros à família.
Agora, está nas ruas, na televisão, nos jornais, uma campanha publicitária da TV Cabo, que é uma verdadeira infâmia. Nela, e no início, expuseram uns cartazes onde um filho anunciava ao pai que se tinha ido embora de casa, porque ali, não havia TV Cabo. “Tchau, pai vou bazar. Sem TV Cabo, quê que estavas à espera”. Veio a segunda leva de cartazes, em que a mulher, primeiro, e depois a empregada doméstica, a “Deolinda”, anunciam que se vão mudar, para onde haja TV Cabo.
Para que tomem consciência da dimensão do atrevimento, leio-vos, na íntegra, uma página inteira de publicidade, com esta Carta, que diz assim: “Artur, durante meses, andei a pedir que me ouvisses. Agora vejo-me obrigada a tomar uma atitude. Sabes, Artur, às vezes quando não temos coisas importantes em casa, começamos a procurar fora. Eu estava a sentir-me presa; todos dias a mesma coisa. Fui para casa do Pedro. Acredites ou não, ele entende-me. Todos os dias temos um programa diferente, sinto-me viva outra vez. Como é que põe a nossa felicidade em causa por € 15,50? Laura”.
Um comentador, insuspeito de qualquer excesso de piedade, insurgia-se: “Esta campanha ofende os pais, os filhos e as empregadas domésticas. Ofende os valores mínimos do casamento, da família e da vida em sociedade (“Dois casos exemplares, in Expresso, 1 de Dezembro 2006, p.7”).
Acreditem ou não, como o Artur, é neste “deserto” assim, de ideias, de valores, de princípios, que a voz de João Baptista, tem de ressoar, com a mesma frescura, coragem e vigor. “E há hoje tantas formas de deserto”, como bem nos avisava, desde o primeiro dia, o Papa Bento XVI: “há o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede; mas há também o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Há o deserto da obscuridade de Deus, do esvaziamento das almas, já sem consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores se tornaram assim tão amplos” (Bento XVI, Homilia no início do Pontificado).
Quem não vê tal deserto, quem não o sente, perante o cenário de uma publicidade, tão reles e mesquinha, que induz comportamentos que ferem e minam a unidade familiar? Se apodrece este tronco da unidade conjugal e familiar, como se aguentará de pé uma família, uma sociedade ou uma comunidade? "
E apetece-me utilizar aqui a célebre frase "já agora vale a pena pensar nisto!"